O PRÊMIO DE GOLEADOR

 

Autor: Nédio Vani

Com 15 para 16 anos disputei o primeiro campeonato de futsal no colégio Cristo Rei em uma quadra feita de lajotas, embaixo do salão de atos do colégio. Me destaquei mesmo sendo principiante, me consagrando goleador do torneio e ainda campeão do evento, levando 3 medalhas para casa.

Com a construção da quadra de futsal do Banco da Província, o Ataliba me levou para jogar na equipe do Cobra Preta, pois já me destacava também no futebol de campo, jogando no juvenil do Taguá. Em 1967 tive o privilégio de sair campeão do que se chamou 1º campeonato Provinciano de futsal de Getúlio Vargas, tendo sido o artilheiro do campeonato, marcando 26 gols. O vice-artilheiro foi o Kiko, também do Cobra, com 23 gols. Juntos nós dois marcamos 49 gols.

O time era formado por Luizinho e Cláudio Prataviera, eu e meu irmão Vilson, Valdir Vitelli (Careca), Roberto Pavinato (Pimenta), Santo Rafagnin e Luiz Airton Dias (Kiko). O técnico era o Ataliba José Flores.

Foi o primeiro campeonato oficial de futsal da cidade e, não sei porque, na época criaram uma maneira diferente de premiar o goleador do campeonato. Não teve entrega de troféu, nem de medalha ao maior goleador. O que eu ganhei no dia da premiação na quadra do Banco da Província foi um papel quadrado, com espessura de um papelão, escrito “Cine Teatro Vera Cruz, permanente por 1 mês” e embaixo tinha a assinatura do Arnaldo Bianchi, responsável pela bilheteria e controle de acesso ao cinema.

O Cine Teatro Vera Cruz foi inaugurado na década de 1960, sendo por muitos anos a principal opção de lazer da sociedade Getuliense. As sessões de cinema ocorriam às quartas, sábados e domingos (à noite) e também aos domingos à tarde (matinê).

Para a turma da minha geração, que estava com 17, 18 anos, o grande desafio era conseguir entrar nas sessões noturnas de cinema, quando o filme era impróprio para menores. Naquele tempo a lei era muito rígida e era proibido aos menores de 18 anos frequentarem alguns locais, como clubes, bailes e cinema.

O Sr. Arnaldo Bianchi era quem autorizava ou não a entrada da rapaziada no Cine Vera Cruz. Devido ao fato da cidade ser pequena ele praticamente conhecia toda a juventude que frequentava o cinema. Os rapazes tentavam driblar o Bianchi, mas era muito difícil um menor de idade entrar no cinema.

O homem era rigoroso, inflexível. Às vezes, quando estava de bom humor ele deixava entrar um ou outro que estava perto de completar os 18 anos. Vendo isso os outros rapazes se animavam….mas quando iam tentar entrar, o Bianchi impedia novamente o acesso. Era um jogo de gato e rato.

Naquele ano eu tinha feito 18 anos e com o prêmio de goleador pude assistir a todos os filmes das quartas, sábados e domingos, por 1 mês gratuitamente. O cômico das minhas entradas no cinema, foi que um dia esqueci a permanente em casa, e o Bianchi mesmo sabendo que eu já tinha entrado uns 15 dias, me mandou mostrar a PERMANENTE.

Eu relutei, dizendo:
– Mas…. Seu Bianchi, o senhor já me deixou entrar várias vezes no cinema…

Ele respondeu, muito sério:
– Não importa. Só pode entrar com a PERMANENTE.

Dei meia volta e saí correndo para buscar a credencial na minha casa, que ficava a duas quadras do cinema. Quando voltei, reparando que eu estava ofegante, o seu Bianchi observou:

– Pra que tanta pressa, rapaz?

– Não posso perder o CANAL 100, respondi faceiro.